domingo, 26 de agosto de 2007

Violada (de Alma Welt)

(126)

Quando eu passeava na floresta
Com ares de pequena camponesa,
Atrás de cogumelo ou framboesa
Para voltar pra casa toda em festa

Não me dava conta do perigo,
Pois ali, uma tarde, o inimigo
Me imporia cruel violação
Sem que me coubesse reação

Senão chorar e impotente suplicar,
Desnudada e brutalmente penetrada,
Duplamente, aberta, conspurcada.

Depois fui encontrada a vagar
Louca, esfarrapada, a claudicar,
E a quem só restou ser internada.

6/01/2006

Nota da editora:

Fiquei imensamente chocada com este soneto, que a rigor não se encaixa no gênero erótico, por ser doloroso, patético e até constrangedor. Não sei se a Alma o poria aqui. Mas como ela tinha o hábito e a coragem de contar tudo, absolutamente tudo de sua vida em poesia, resolvi afinal publicá-lo. Quando o que ela contou aqui aconteceu, depois de a procurarmos para o almoço, pois estava atrazada, a encontramos no bosque, perdida, com o vestido em farrapos, os seios e as coxas expostos e arranhados, vagando naquelas condições, como se estivesse louca. Não falava coisa com coisa, e desolados e aflitos nós a pusemos no carro dirigido por Galdério e fomos interná-la numa clínica conhecida em Alegrete, onde ela chegou tão agitada que tiveram que lhe ministrar um "sossega leão" que a fez dormir por 24 horas. Diante dos vísíveis sinais de violência a médica e psiquiatra da clínica procedeu a exames íntimos em minha irmã que constataram o estupro. Essa médica era a querida doutora Jensen, que se tornaria nossa grande amiga. O estuprador, depois ficou provado, era o meu ex-marido, Geraldo, que sempre cobiçara Alma, e que se revelou um bandido e um assassino. Tudo foi contado depois pela Alma no seu romance A Herança. (Lucia Welt)

Nenhum comentário: