segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A régia boda (Alma Welt)

Venha por aqui, ó meu irmão,
Que quero te mostrar o que encontrei.
Vê, ali embaixo, um alçapão
Com a marca de um brazão de rei?

Levanta, isso! eu te ajudo!
Bah! O que é isso, não acredito!
Fecha, depressa, cobre tudo!
Esta noite voltarás escondidito

E eu te esperarei, lanterna acesa,
Nuínha, para me cobrires toda
De ouro, como fora uma princesa.

E então, te prometo, me terás
E será como numa régia boda,
Mesmo que, como sempre, por de trás...

(sem data)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O eterno retorno (de Alma Welt)

Contarei e contarei até o fim
Dos meus dias como vou ao meu irmão
Encontrá-lo alta noite no seu sótão
Para entregar-me a ele e ele a mim.

E como, tateando no escuro
Nos longos corredores, já ardente,
Eu me dispo no caminho, de repente
Naquele impulso claro e obscuro

Que me leva assim a dar-me e dar-me
E exausta adormecer sobre seu ombro
Depois de tanto cavalgar a sua carne.

E como, adormecida, recomponho
A clara roda de ir ao seu encontro
Na obscura clareza do meu sonho.

(sem data)
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El eterno retorno (de Alma Welt)
(versión al castellano por Lucia Welt)


Cantaré y cantaré hasta el fin nuestro
Como voy tan repetido al mi hermano
Encontrarlo, alta noche, en su sótano
Para entregarme a ello, por supuesto.

Y como, palpando el aire oscuro
De los corredores onde, ardiente,
Me desnudo en el camino, de repente
En un raro impulso claro y puro

Que me lleva así a darme y darme
Y exhausta dormir con ello adentro
Después de cabalgar tanto su carne

Y como recompongo el diseño
De la rueda de irme al su encuentro
En la oscura claridad de nuestro sueño.

sábado, 9 de agosto de 2008

Na palha do celeiro (de Alma Welt)

Ponha a mão no meu seio, ó meu irmão!
Vê como bate comovido e acelerado!
Assim se pôs em mim com o encontrão
Que tivemos neste escuro inesperado.

As luzes vão decerto demorar
Com essa tempestade que há lá fora.
Aproveitemos e vamos nos deitar
Nesta palha que a mãe tanto deplora.

Deixa eu pôr a mão aqui em baixo
E libertar teu passarinho engaiolado.
No escuro eu cuido dele e o encaixo

Na conchinha que é seu ninho verdadeiro
Conquanto vai e vem (está assustado!)
Antes que as luzes voltem no celeiro...

(sem data)