quinta-feira, 26 de julho de 2007

Sonetos Luxuriosos da Alma (de Alma Welt)

Prólogo
1
Hoje acordei desesperada
Rolando no meu leito como outrora
Quando a presença era esperada
Do cavaleiro que viria a qualquer hora.

E pus-me a gritar na vã ardência
Com meus dedos plantados como um marco
No meu triste corpo em sua carência
De perfeita seta sem... o arco.

E então levanto sem que sequer me vista
E vou para o ateliê ainda nua
Sabendo que é possível assim ser vista

Por aquele passante da minha rua
De quem sempre sonhei, semi-acordada
Uma audaz visita inesperada.


2
Invada-me, amor, levante a trégua,
Com força, assim, como a uma fêmea,
Como um guri matuto a sua égua
Barranqueira, e nada de “alma gêmea”.

Coloque-me de quatro se quiser
Apoiada nas costas da cadeira,
Introduza sua vara assim certeira
Onde melhor lhe aprouver.

Mas quero que olhe enquanto faz
Pois meu prazer aumenta percebendo
Que sou olhada, aberta, assim por trás.

E se gozar bem fundo dentro em mim,
Só saia para ver-me oferecendo
Um buquê de flores brancas de jasmim.


3
Ponha-me, meu monge, à tua mesa,
Quero dizer, deitada mesmo sobre ela.
Levanta a tua batina assim tesa
Enquanto ergo bem alta a minha canela.

E que olhes assim, antes do tiro,
Pois o quero certeiro no furinho
Que tu sabes bem o qual prefiro,
Já que qualquer dos dois será teu ninho.

Andarilho, no entra e sai da tua andança
Não deixes de me olhar assim por trás
Para observares a lambança

Que produzes nesse corpo hospitaleiro
Que sempre acolheu teu leva-e-traz,
Portas abertas, como ao monge seu mosteiro.


4
Esta manhã, gentil, nem me acordaste
Com a tua doce interferência
No meu lindo sonho, e penetraste
Minha fenda por trás, mas com prudência.

E ficaste assim, adormecendo,
Gostoso, quentinho dentro em mim
Até que já molinho e escorrendo
Saíste, pois teu sonho teve fim.

Depois ouvi o som do teu xixi
E do banho após o barbear
Enquanto eu vazava por ali

Molhando o meu lençol com tal carinho
Que chamei-te antes mesmo de acordar
Para que voltasses ao teu ninho.


5
O meu amor adora os meus pentelhos
Tanto quanto eu, que ao acordar
Os contemplo longamente nos espelhos
Constatando a perfeição de emoldurar

Que eles, meus pelinhos, conseguiram,
Em torno de lábios tão rosados
Que nunca uma mentira proferiram,
E o seu amor declaram, mas calados.

E então eu me viro oferecendo
O revés que ele adora mais ainda,
Já que minha bunda é mesmo linda,

Enquanto entreabrindo ele vai vendo
Um botão rosado, apetitoso
Um mistério de gozo... doloroso.


6
Amor, hoje podemos variar,
Pois convidei a minha amiga pr’um pernoite,
E se fores amável, vais voltar
E nos pegar, para brindar-nos c’um açoite.

O rabo-de-tatu está na estante
Está tudo combinado, eis a senha:
Quando chegares espera um instante
Para ouvires-me exclamar “Ai! Amor, venha!”

E então entrarás meio vermelho,
E fingindo-te traído gritarás:
“Ah! Safada! Então esse é o espelho

Que dizias ser a tua companhia,
Enquanto eu só contigo dividia?
Agora, os três dividiremos este relho!”

7
Ontem, meu amor, foi uma glória:
A farsa funcionou à maravilha,
Minha amiga acreditou em toda a estória
E deixou-se castigar como uma filha.

Depois nos colocaste assim de quatro
E passaste em revista a retaguarda
Chegando a tirar-nos o retrato
(estou louca pela foto revelada!)

E então nos impuseste o castigo
Final e mais completo, o de Sodoma,
Dizendo que assim o amor se soma

À dor do flagelo merecido.
Depois de fustigadas pelo amigo,
Um botão de rosa... “intro-metido!”


8.
Ai, amor, quero voltar à minha estância,
Eis o dilema de ser insaciável,
Já nada pode aplacar a minha ânsia,
Quanto mais amor, mais desejável

É para mim o homem em seu vigor.
E sonho em ser total, completamente
Possuída por trás e pela frente
Com delicadeza ou com rigor.

Sonho, qual princesa ser mimada
Com flores e passeios e carinhos,
E logo em seguida castigada,

Colocada com a perna muito alta
Na cama, para então ser violada
Por todos os amigos, toda a malta!


9

Amor é um turbilhão, um mar de chamas
Que queima como incêndio na floresta,
É ferida aberta sobre as camas
E dói tanto que pouco ou nada resta

Só a ânsia de mais e mais amar
E mesmo virada assim do avesso
É redondamente se enganar
Quanto ao seu fim ou seu começo;

É ficar cega de tanto admirar
E querer o outro devorar
Para senti-lo dentro devorando.

Eis o nosso coração então repleto,
Que vai o Hermafrodita aflorando,
O ser primordial, uno, completo!


Epílogo
10
Levantei-me esta manhã e eis-me curada!
Posso passear sem ser notada
Senão como aquela bela Alma
Que parece ser feliz e muito calma.

O mundo saberá meu desvario
Apenas nestas “mal traçadas linhas”
Num futuro risonho e menos frio
Onde as mulheres não serão tão comezinhas

E então apaziguando meus furores
Vou procurar conter-me (não gargalhem)
Para deixar “as partes” descansarem


Embora minha prudência seja pouca.
Aguardem-me, pois, meus bons leitores
Que em breve voltarei ainda mais louca.

2005

Sonetos Proibidos da Alma (de Alma Welt)

(14)
(Este ciclo de sonetos, como era costume da poetisa Alma,
contam uma estória real (acontecida com ela) se lidos em
seqüência, e na ordem correta. Aconselho o leitor que assim
o faça afim de aproveitar essa característica tão original
da autora. Não obstante os sonetos lidos avulsamente também guardam seu encanto.) (Lucia Welt)

Prólogo
1
Sombras volúveis, sorrateiras sombras
Que avançam sobre o dia em seu ocaso:
Assim também caminho nas alfombras
De um passado tão presente e nada raso

Que carrego dentro em mim qual um segredo
Que, no entanto, grito aos quatro ventos:
Amor sagrado que me causa este degredo
E conduz estes meus gestos quase lentos.

Glória, maldição, honra e vergonha
Convivem em minha’alma neste amor,
Um filtro de delícia e de peçonha,

Pois maldito e proibido pelo mundo,
É como pura luz vinda do fundo,
E sua essência mesma é pura dor.


Naquele jardim...
2
Naquele jardim da nossa estância
Onde corríamos em meio a vagalumes
Que ornavam nossos corpos com seus lumes
Quando fruíamos a noite dessa infância,

Ali entre touceiras multicores
Mas azuladas pela luz desse luar
(ainda sinto das flores o perfume
e as batidas do meu peito a galopar...)

Deitada sob o peso de um guri
Sentindo palpitar seu coração
E entre minhas coxas seu “pipi’,

Calado meu gritinho, amor e dor,
Pelos lábios ardentes de um irmão
Precoce, amoroso... estuprador!



Sob a a macieira...

3
Sob a macieira do pomar
Onde gravei meu coração,
Aí o encontrava pra brincar
Num balanço, por si só uma canção.

E lembro que voava aos seus impulsos,
Sentindo como quem quase desmaia,
As carícias do vento sob a saia
Causando um arrepio até os pulsos,

E então eu me lancei naquele dia,
Do balanço em seu ponto mais alto
Para cair, morrer como quem cria,

E assim logo amparada por seu braço
Poder entregar-me como um salto
De quem tem no pescoço um doce laço.


Ai, Rôdo, eu me vejo...
4
Ai, Rôdo, eu me vejo ali caída,
E em seguida à tua doce aflição,
Em choque no alcatifado chão,
Antes de sentir a saia erguida.

E então (a minha vulva ainda sente)
Com teu pequeno pênis já tão ávido
Me penetraste o hímen complacente
Com teu ardor precoce, tão impávido.

E ficaste em mim, mas só por ti,
Entrando e saindo, encantador,
Que eu não mais sentia qualquer dor;

E resolveste, por seres um guri,
Gemendo de um modo assustador,
Fazer dentro de mim o teu xixi.


Ai, Rodo, ai Pampa...
5
Ai, Rôdo, ai Pampa, em meu pomar
Me lembro, depois, ao levantar,
Como sentia as coxas escorridas
Desde as pequenas fendas invadidas

E esse rio de urina (assim pensava)
Corria até os meus pezinhos
Produzindo uma volúpia que assustava
Por fazer-me desejar mais tais carinhos.

Pois no teu ardor, meu pobre Rôdo,
Quiseste colocar teu penisinho
No outro orifício cor de cobre

Depois de introduzir na fenda nobre
Puseste-me de borco, em grito: “eu fodo!”
Para invadir o meu sujo buraquinho.


Naqueles dias...
6
Naqueles dias eu vivia intensamente
Sentindo a minha carne degustada,
Guria, infanta nua, devassada,
Queria ser assim eternamente.

Mas lembro, todavia, o lance estranho:
Minha mãe, de noite, desvelando,
Tirando-me a calcinha, examinando,
Na pombinha, vestígios: sangue e ranho.

Mas eu já descobrira a plenitude
De ser pequena fêmea, mais que “mana”
Fazendo do meu “dar”, uma virtude.

E querendo mais doar, mais ser tomada,
Pelo amor e pela dor de ser humana,
Por coragem e desafio à finitude.


Tanto que voltei...
7
Tanto que voltei ao meu pomar
Tanto que o irmão me conheceu
Tornando-se um amante exemplar,
Inocente como a prece de um ateu.

Erguemos nosso altar a Dioniso
Defronte à minha ara, a macieira;
Não ligamos aos sinais e ao aviso
De Matilde, minha aia alcoviteira.

Tomados de uma tão doce paixão
(posso ao menos assim falar por mim)
Embora se tratasse de um irmão,

Pois viril demais, e com malícia
Precoce, produzia mais delícia...
Piá, que só não era um querubim.


Ó pequena divindade...

8
Ó pequena divindade alcoviteira,
E numes que constante eu invocava
Diante da minha bela macieira
Onde tão feliz me desnudava.

Pequena hetaera infante eu me tornara,
Votada a uma tragédia, fosse frágil
Se não à alegria devotara
Minha vida de poeta, mente ágil

Mas que guarda o horror daquele instante
Em que flagrados fomos e humilhados,
Pelos pulsos do solo levantados

E obrigados a cobrir, naquela trilha,
Com a mão o doce pássaro cantante
Que incauto nos pousara na virilha.



Muito tempo passar-se...

9
Muito tempo passar-se haveria...
Não pudemos repartir a juventude
Pois a águia guardiã da tal virtude
Expulsou-nos do pomar da alegria.

Rôdo, meu irmão, ah! Quanta pena...
Não podermos caminhar naquela senda
De um doce paraíso de encomenda,
Pois algo pune a inocência e nos condena.

E se ambos conservamos a pureza,
Tanto maior a rebeldia e nosso mérito:
Não poderão tratar-nos com dureza,

Que continuo a amar o amor pretérito,
O amor presente e talvez algum futuro
Mantendo o coração alegre e puro.



Epílogo
10
Nesta estância tão antiga, dos avó,
E antes deles outros tantos como nós,
As paixões escorrem pelas vinhas
Ou escalam as paredes qual gavinhas.

Mas nada se assemelha ao meu segredo
Que abro, meu leitor, a ti, sem medo
Pois és meu confessor sem rosto ou voz,
Que espero não se torne meu algoz.

Assim vou purgar ante vocês,
Cada momento, assim, ou cada lance
Para que o sentido então alcance

Das emoções tão vivas que causaram
As carícias venais, mas muito doces,
Pois, minh'alma, não o corpo, violaram...

04/10/2004

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Como posso prosseguir... (de Alma Welt)

(13)

(dos Sonetos da Pintora (IV)
(3)

Como posso prosseguir acreditando,
Manter aceso o olhar e o desejo,
Se o coração carente traz o ensejo
De perder-se no outro, assim, amando?

Refiro-me à pulsão que cria, à Arte,
Da qual não posso certamente prescindir.
Mulher-artista, como prosseguir
Se o doido coração quer liquidar-te?

Ser só mulher, entregue, possuída,
Fêmea total, às raias da odalisca,
Da puta gloriosa e assumida...

Assim quer o branco corpo, o alvo seio,
Os lábios cheios de paixão arisca,
As amplas curvas com a fenda ao meio!



(4)

O quadro que pintei hoje, me guia,
Amanhã serei outra, em plenitude.
A obra que não fiz neste meu dia
Nunca verá sua completude,

Assim dizia um velho amigo meio sábio
Enquanto eu me achava "meio grávida"
Quero dizer com isso o quanto hábil
Era o meu amigo e... eu, tão ávida!

A sede de viver me confundia
E na louca juventude dispersiva,
Por delicadeza me perdia...*

E assim, entre ânsias e desejos
Quanta hora perdida e quão lasciva
Era esta bela Alma, e... quantos beijos!


*(Paráfrase do célebre verso de Rimbaud:
"Par délicatesse j'ai perdu ma vie")

5

Vem, minha amiga, vem comigo
Para o quarto, já que queres premiar-me.
Pintei o teu retrato, e não consigo
Deixar de, a ti, agora querer dar-me.

Terás de possuir-me de algum modo.
Quero que entre em mim o que tiveres:
Lábios, língua, dedo, enquanto rodo
Como frango no espeto. Não me queres?

Adoro sentir-me aniquilada
Depois de ser assim tão obediente...
Não sou mais a pintora, não sou nada!

Conquanto eu não te veja preparada,
Quero, enquanto ainda esteja quente,
Com este relho de meu pai ser fustigada.

11/11/2005

O segredo do meu vinho (de Alma Welt)

(12)

(dos "150 Sonetos Pampianos da Alma")


Ali onde a colina encontra a lua
Como imenso sonho branco a flutuar
Contra a nave em silhueta do lagar
Quantas vezes sobre as uvas me pus nua!

A invocação de Dioniso é o caminho
E deve ter ritual inusitado:
Somente o meu corpo despojado
Pode chamar as forças do meu vinho.

Então eu sento sobre o sangue do lagar
Em puro êxtase, no tempo de sangrar...
Eis revelado o segredo do meu tinto.

Não me venham dizer qu'isto é de demos,
Não percebem o buquê como é distinto?
Ao aroma e cor da Vida, ah! brindemos!

05/01/2007

Uma vez, guria, vi (de Alma Welt)

(11)

Uma vez, guria, vi, estarrecida,
Um peão e sua chinoca no galpão.
Sobre a palha, seminua, estendida,
Ela gemia como em parto ali no chão.

Tinha as pernas no ar e muito abertas
E o gaúcho mergulhava em suas coxas...
E eu, de onde estava, entre frestas
Via detalhes que poriam outras roxas.

Sim, eu via como aquilo adentrava
Chafurdando com estalos obcenos
Enquanto sangue e ranho exudava

Melando palhas agitadas qual acenos
Grotescamente coladas nas virilhas
Num flagrante de estranhas maravilhas!

20/12/2006

Amores meus, fantasmas... (de Alma Welt)

(10)

Amores meus, fantasmas inconsúteis
Que povoam minha noite assim molhada,
Possuam-me, ai! não sejam inúteis,
Devorem -me, me quero aniquilada!

Tenho-os a todos dentro em mim,
Lanço mão de seus segredos, das malícias
As doces perversões de querubim,
Os fundos vales , as praças de delícias.

Lembra, amor, aquilo que gostavas?
Punhas-me de quatro para olhar-me
Até eu escorrer sem nem tocar-me,

E súbito, teu sumo em chafariz
Quase me afogava, por um triz,
Enquanto os meus lábios violavas.

05/12/2006

O Secreto Perfume (de Alma Welt)

(9)

Quando nua eu me olho nos espelhos
É quando vêm as lembranças dos amores,
As mais doces carícias nos pentelhos,
As mucosas exalando seus odores,

O arrepio na nuca, o sussurro
Ecoando surdo em minha orelha
Num crescendo até virar um urro
Que a um grito de dor se assemelha.

Então entra uma certa crueldade
Como um querer morder ou devorar
Ou beber-me até a saciedade...

E me entrego assim despudorada
Pra que afinal me sintam exalar
O mais secreto perfume da Amada!

12/12/2006

domingo, 22 de julho de 2007

Amor meu... (de Alma Welt)

(8)
(Estes dois sonetos foram "pinçados" do livreto "Sonetos da Pintora"II
de Alma Welt, por serem bela e delicamente eróticos, e
caberem neste blog, a meu ver. (Eles são o n°6 e o 10 daquela série. Vide as páginas da Alma no site Leia Livro.)
(6)

Amor meu, coração, alma e poesia,
Pintura em minha veia, cantoria,
E a dança dos meus gestos quando pinto
Diante da tela branca em que me sinto.

Assim também no leito me coloco
Passiva agora diante do teu foco,
Que a pintora és tu, neste momento,
Para fazer tua obra, teu evento.

E se souberes combinar as minhas tintas
Colhendo-as onde fluem generosas
Terás na mesma tela em que pintas

O duplo retrato, arte e vida,
Que vejo em mim e ti, enquanto gozas
Sobre a minha boca agradecida.

10/10/2004


Epílogo
(10)

Quero pintar, perder-me, poetar,
Amar, ser amada e possuída
Pois que tudo quero desejar,
E desejada, ser a própria vida.

Confundindo-me com aquilo que desejo
Entregar-me assim nua e sem pejo,
Atingida pelo amor em pleno cerne
Através do sexo e da epiderme

Ser a musa de um poeta, gloriosa,
(que jamais me entregaria a um burguês)
Ser então cantada em verso e prosa

Depois, quando o Tempo adverso
Atingir-me como a todos sempre fez,
Feliz poder mirar-me no meu verso.

10/10/2007

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Sonetos da Angústia ( de Alma Welt)

Alma Welt

Sonetos da Angústia

Índice

1.Prólogo
Noite escura, declive...
2. Quantos planos, amores...
3. Amor meu, tesão...
4. Na manhã do auge...
5. Quando afinal chegou...
6.E assim começou...
7.Aline, reconheço...
8. Aline, eu me lembro...
9. Ali fui encontra-los...
10. Vou perder-te, Aline...
11.Noite, noite atroz...
12. Volto ao meu jardim...























Alma Welt

Sonetos da Angústia

Prólogo
1
Noite escura, declive, estreita via
Nos quais me vejo, nestes dias, novamente,
Sabendo que este ciclo já havia
Aparecido outrora em minha mente,

Mas que eu julgava ter exorcizado
Como tristes demônios da incerteza,
Afastando fantasmas do Passado,
Da dor de um destino sem clareza.

Agora aqui me vejo em novas garras
Do monstro interior que a alma teme
Debatendo-me entre pesos e amarras

Neste barco da vida já sem leme
Mas que ainda almeja o mar e o mundo
Ainda que no cais se vá ao fundo...



2.
Quantos planos, amores, ilusão!
Quanto ideal que na alma mal perdura,
Perdida a esperança e a pulsão
Que me atirava esmo e com candura

Na torrente obstinada e atrevida
De um rio feroz e obstinado
Correndo para o imenso mar da vida,
Mas sendo o próprio leito o fim e o fado!

Então, percebo enfim a ironia,
E enxergo no fluxo deste rio
A própria resposta que eu pedia

E veio até mim, ramo florido,
Num gesto de aparente desfastio,
Num remanso à margem recolhido.


3.
Amor meu, tesão, alma e ternura,
Eu tive do amor a plenitude
Dos meus trinta anos a loucura,
Para amargar agora a finitude.

Aline, meu modelo deslumbrante,
Imagem de beleza e de candura
Cuja falta n’alma mesma inda perdura
Mas com ligeira nota redundante,

Pois se bela sou, o quê procuro?
Porquê o vazio e tão triste carência,
Por quê, Amor, revela-te tão duro?

E arrasto-me em mim, na solidão
De uma dor que revela insuficiência,
Mistérios do meu rico coração...


4
Na manhã do auge deste mal
Ligado à solidão e à carência
Procurei nas amarelas o ramal
Do cadastro de modelos de uma agência,

Cuja secretária Lusinete
Me deu a ficha do setor “modelo nu”
Que eu podia ver pela Internet
E então escolher como um menu.

E foi assim que vi Aline, de primeira,
Um rosto acachapante de beleza
E com ligeiro laivo de tristeza

Que me conquistou como uma rima
E pareceu-me a imagem derradeira
Que faltava ao verso de auto-estima.


5
Quando afinal chegou o meu modelo
E o interfone anunciou como ao “Amor”,
Coloquei-me bem de frente ao elevador
E abri os braços com num apelo,


Saudação ou abraço festejante
Como quem espera filha pródiga,
Mas que então desfiz no mesmo instante
Recuando pra a soleira, bem mais módica.

E a porta abrindo, me vi diante da beleza
Mais pura e perfeita jamais vista
Que avançou com perfeita realeza

Também com o seu abraço aberto,
Disse, girando em minha sala mista:
“Que belo tudo aqui... Tá tudo certo!”


6
E assim começou o nosso caso
De amor e de loucura, minha Aline,
Por quem me ergueria em meu ocaso
Em pleno verão, sem que eu atine.

Pois minha alma velha em corpo jovem
Precisa de injeção de juventude
Para que afinal se erga e mude
Em ágil, como os dias que se movem

Neste ateliê febril de amor e arte
De onde saem telas e poemas,
Desenhos e sonetos, como gemas

De um garimpo feliz e sem descarte
De poluidor mercúrio, e n’outros temas
Refazer-me, Aline... por amar-te!


7
Aline, reconheço, eu te seduzo
No ateliê, como se fosses aprendiz.
Eu te envolvi como um novelo no meu fuso,
A ti, que eras noiva, e até feliz.

Até que te atirasses nos meus braços
E faminta como eu te revelaste,
No amor e na ternura dos abraços
E carícias que também me prodigaste.

E que tardes! Tanto gozo exaltado,
Experimentamos no leito, teta a teta
E até sobre o assoalho pintalgado,

Onde desnudadas confundimos
Modelo e pintora, sem paleta,
Corpos e funções, que assim fundimos.



10
Aline, eu me lembro, começaste
A revelar teu jogo ao namorado
E como a um e outro revelaste
A natureza do prazer fruído e dado.

De repente estava assim acontecendo
O ménage-a-trois inesperado
Mas previsível, na verdade, neste quadro
Tão ambíguo, que estávamos vivendo

E foi assim, no auge da volúpia
Que teu Pedro mudou então o jogo
Por cobiça ou mesmo por astúcia

E Ulisses desastrado e demagogo
Pretextando um ménage sem tramóia
Propôs encontro no novo “Café Tróia”.


9
Ali fui encontrá-los, vou lembrando
Como pra isso me flagrei me enfeitando!
Entrei no café novo, a armadilha
Que teu Pedro armou à maravilha

E ali no ambiente barulhento
E fútil, me vi quase devorada
Por olhares cobiçosos da moçada
E depois pelo de um deles mais atento

Que era o teu Pedro, falso Ulisses
Que me viu até antes que me visses,
E tremeu, eu senti, ele tremeu

Sentindo que teu corpo era meu
E como tu tremias ao me ver
Do medo que me tinhas de perder!



10
Vou perder-te, Aline, é quase certo
Depois do nosso encontro desastroso
A três, naquele bar (Pedro é esperto
E percebeu quanto o ménage é enganoso).

Pois ele me queria como pasto
Junto a ti, somente algo noturno,
E então, vendo-me assim, logo me afasto
E a ti reivindico, por meu turno.

Outrora, eras dele; eu: como “puta”,
Julgava não ter maior direito
E amava num espaço assim estreito.

E eis que se instala a disputa
E és tu que estás no meio, minha amada,
E já não posso te ceder, assim sem luta.



11
Noite, noite atroz e tão sombria
Em que me vejo na descida de minh’alma
Perdida a minha Aline (eu bem sabia
Que não podia perder a minha calma!)

E pus tudo a perder por puro medo
No beco sem saída de uma escolha
Que faria de Aline um brinquedo,
Que sempre me pedia: “Não me tolha!”

E por puro orgulho de mulher
Acabou ficando c’o mais forte:
Aquele que sabia mais tolher...

E eu, fraca mulher (só sei amar
E dar-me, e servir... e mais me dar),
Perdido o meu amor, estou... na morte!



12
Volto ao meu jardim, e ao meu pomar...
Após longa jornada, o casarão!
Percorro o vinhedo e o lagar
Mas não toco vinho ou chimarrão;

Prefiro percorrer estas lombadas
Das obras outrora tão amadas,
Livros do meu pai, tão doloridos
Em solidão, como eu, e tão feridos!

E então retiro um tomo, meio a esmo,
E o abro (meu espanto!): é o Barão
De Münchausen, o mentiroso, aquele mesmo!

E me vejo flutuando em seu cavalo,
Meu cabelo repuxado em sua mão,
Subindo, arrancada deste valo.



13.
Volto ao Jardim de arranha-céu
Onde montei meu ateliê
E onde em telas ou painel
Plantei pequeno mundo, que se vê.

Como Aline, no dia em que chegou
Eu giro e olho em torno meu cenário
E percebo como o mundo meu é vário,
E como me bastar sendo o que sou.

Assim, comigo vou reconciliar
A mim mesma, fazendo minha parte
Com Deus, que me deu beleza e arte.

E entrego meu destino, apaziguada,
Sabendo que estarei mais elevada
Quando de novo o interfone ressoar...

FIM

03/11/05

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Novos Sonetos da Alma - A Viagem (de Alma Welt)

(Os ciclos de sonetos da Alma quando lidos em seqüência
e na ordem correta contam uma estória de amor (ou paixão) completa, com começo, meio e fim. Por isso aconselhamos os queridos leitores a assim fazê-lo para apreciarem essa curiosa característica da nossa poetisa,
embora os sonetos ao mesmo tempo tenham autonomia e possam ser lidos avulsamente. (nota da editora)

Novos Sonetos da Alma
(A Viagem)

Prólogo

1
Cai a noite, como tampa marchetada
De estrelas e memórias, sobre a mente,
No silêncio que me põe mais acordada
Minha vida vai passando, tão fluente

Ante meus olhos, que uma vaga nostalgia
Mantém semicerrados na neblina
Como sonâmbula a vagar na noite fria
Levada para onde o ser se inclina

E as memórias são mais doces, mais amenas,
Perspassando o coração que não desvia
Desse bando noturno de falenas.

Vejo, então, os meus amores desfilando
Como espectros na noite, me cobrando
O amor fiel, sem fim, que eu prometia.



Crazy Horse

2
Amor meu, desperte-me as centelhas,
Estou plena de ti, assim, por dentro
Mas falta-me o teu sopro, teu alento
Por fora, na minha nuca e nas orelhas.

Que falta me faz o teu abraço!...
Teu corpo assim colado nos meus seios
Teu membro em permanente inchaço
Procurando-me por todos os seus meios

Adentrar-me, assim, quase varada
Sofregamente, depressa, já sem freios
Como um cavalo louco em disparada

Pelas sendas da minha carne devassada
Que se entrega como ouro nos seus veios
Desta terra prometida, conquistada!



Luso coração

3
Estou triste, afinal, que coisa brava
Pr’aquela que cultua a Alegria!
Minha alma germânica vencia
O luso coração, e comandava...

Cai o vazio, enfim, sobre este peito
Finalmente vencido, extenuado:
Estou triste, estou só, neste meu leito
Que eu buscava manter sempre ocupado.

O amor tinha seu tempo e agora passa,
Deixou-me como era de supor
Pois tudo vai e vem, como na praça

Os passantes, alheios passageiros
Que percorrem anódinos canteiros
Vagando, numa espécie de estupor.



O Vizinho

4
Ando pelas ruas distraída
Mas atenta ao coração que em mim comanda
Sei que sou olhada, percebida,
Mas finjo como alguém que apenas anda

Por andar, por aí, assim a esmo
E louca, acredita ser achada
Por aquele seu amor, pelo Amor mesmo
Bastando que se ponha na calçada.

Estou perdida, volto envergonhada
E pego o elevador pro meu apê
Com um suspiro mal a porta foi fechada,

E logo ruborizo, ante um vizinho
Que esqueceu a sua chave e não me vê
Procurando nos bolsos, coitadinho.



O Pião

5
Lanço quadros a esmo, em desatino:
Que me resta, então, senão pintar?
Não, não devo assim me maltratar
Blasfemando contra o dom e o destino.

Devo lembrar que sou artista, e que me basto!
Mas, ai, quero chorar, morrer, quero gritar
Sem amor, sem ele, o Nefasto,
Quem sou eu, quem sou, se não amar?

Devo, pois, de mim me envergonhar?
Não és ninguém, ó Alma, que és do Mundo
E não consegues estar sozinha sem chorar !

Volta ao teu eixo, pião, em minha palma
Que estou cambaleando em minha alma
E então temo cair até cair até o fundo!



O Abraço

6
Hoje acordo chorando, tão perdida
Meu corpo cobrando seu contato,
O abraço que me deu em despedida
O sinto em minha pele, pelo tato

Mas dói e arde mesmo qual ferida
E me contorço buscando recompô-lo
No espaço em que me encontro inserida
Buscando o seu contorno, sem consolo.

Tateio-me, abraço-me, introduzo
Meus dedos em fendas e orifícios
Que encontro no meu corpo tão confuso,

Em meus seios, assim manipulados,
Tateados, somente em artifícios,
Meus punhos, em súplica juntados!...



A Viagem

7
Faço as malas, sem forças, muito lenta.
Preciso sair deste buraco,
Pegar uma estrada sonolenta,
Dormir, assim levada como um saco

Sem saber ao certo o meu destino,
Espero encontrá-lo por acaso,
Contradição em termos, que eu atino
Perdida em devaneios, sem atraso,

Num percurso de rumo ignorado,
Que assim quis ao comprar o meu bilhete
No primeiro guichê que foi achado.

Buscando dissipar-me vou a esmo
Como cinzas jogadas na corrente
De um rio que nem sabe de si mesmo.



A praça

8
Me sento nesta praça ignorada
Apenas com meu saco de viagem
Numa aldeia qualquer, nesta parada,
Deixo o ônibus seguir como uma aragem.

E sinto a sensação de liberdade
De estar assim desamparada,
Apenas com meu ser e minha verdade
Embora da tristeza acompanhada

Quando em volta um burburinho principia,
Da beleza e juventude que me guia
Dou-me conta, agora já sem tédio.

Montarei meu cavalete nesta praça
Defronte a esta igrejinha em sua graça,
Onde Amor talvez comece o seu assédio.



O Encontro

9
Este jovem com seus traços decididos
Olhar azul e cabelos tão compridos
Sentado em minha frente nesse banco
Há horas, percebo, pois é manco,

Seus olhos não param de me olhar
E já vejo que o amor que o está tomando,
De tão grande, afinal, quer desbordar
E dirige-se a mim, já claudicando.

Entrego minha mão, que ele colhe,
Abandonando meus pincéis e a paleta,
Deixo-o levar-me, um tanto mole

Pois Amor aproximou-se sem muleta
Essa era a chave, eu sabia, e a condição
Para este novo despertar do coração.


Aquiles

10
Acordo neste quarto de pensão
Em lençóis que já vejo como meus.
Ao meu lado, este Adônis do Sertão
Que examino, adormecido com um deus.

Sua perfeição é destacável
Desta pouca imperfeição de um calcanhar
Que, como Aquiles, enternece e faz sonhar
Com um herói que é menino e vulnerável.

E espero o despertar do novo amor
Que soube atingir-me o coração
Com seu silêncio, diamante tão sem jaça

Pois seu olhar ardente em devoção
Nem por sombra desviou-se de pudor
Quando encontrou o meu naquela praça..



O poeta

11
Estou feliz novamente, estou amando
E sou amada, o que pra mim é quase o mesmo.
Este jovem do sertão, se levantando
Revelou-se poeta com torresmo.

Estou brincando, é claro, tão contente
Que não há rima nova que eu não tente,
Ou experiência pura, que desperte
Uma nova emoção, que me diverte.

Não me canso, pois, de dar-me inteira
Ao pequeno poeta decidido
Que logrou atingir-me de primeira

Com a seta certeira de um olhar
Embora sua poesia sem sentido,
Confesso, deixa um pouco a desejar...


A Volta

12
Estou de volta, a mim e à minha arte
Celebrando a alegria no ateliê.
Rolei um pouco por aí, em qualquer parte,
Amei e dei bastante, já se vê...

O que importa é amar e até sofrer
Mas ser inteira, feliz e sempre atenta,
Interessada em tudo, e no viver
A vida sob o sol, que se contenta

Em ser, e tudo ser em sendo ímpar,
Viver a vida, o gozo e mesmo a dor
Sem renegar jamais o dom de amar

E mesmo envelhecer, louvando o Amor
Que nos permite imitá-lo, à vontade,
Pois reserva pra si a eternidade.


FIM

23/08/2003

Sonetos Luxuriosos da Alma (II) ( de Alma Welt)

(Os ciclos de sonetos da Alma quando lidos em seqüência
e na ordem correta contam uma estória de amor (ou paixão) completa, com começo, meio e fim. Por isso aconselhamos os queridos leitores a assim fazê-lo para apreciarem essa curiosa característica da nossa poetisa,
embora os sonetos ao mesmo tempo tenham autonomia e possam ser lidos avulsamente. (nota da editora)


ALMA WELT

SONETOS LUXURIOSOS II


Prólogo

1
Belo Pampa meu, ó pradarias
Que viram o meu amor e o meu martírio,
Há quanto tempo assim amar não vias
Esta Alma branca como o lírio

De tuas margens do regato e da encosta
Das suaves curvas da coxilha
Onde Amor encontra e tanto gosta
As minhas belas curvas, que dedilha.

Aqui posso amar em plenitude
E ser, voltar a ser o ser pampiano
Que encontrava na montada a completude.

E corria como os ventos haraganos
Para afinal emborcar nua sobre o plano
Para sentir a chuva quente no meu ânus!



Spaccato
2
Aqui estou de volta ao casarão
Cercado do jardim da minha avó,
Além o pomar e o galpão
C’o palheiro que não mais me via só

Pois ali deitava com meu Rôdo
E rolávamos os dois em gargalhada
Até que o silencio se instalava,
Ouvindo-se somente: “Amor... te fodo...”

Então era colocada em posição
Que por certo não está no Kama-Sutra
Enquanto era degustada como fruta

Por instantes em completa exposição
Pra o meu irmão fruir o meu regato,
As pernas muito abertas... spaccato!



A Fonte

3
Vem meu amor, sou tua cadela,
Expondo-me inteira para ti.
Vê a minha concha como mela.
Agora olha a fonte, bem ali.

Assim de quatro, exposta, toda aberta
Sou tua, beija, chupa aqui,
Mete a tua língua assim experta
Titilando-me, molhada de xixi.

E agora estou pronta, tão melada
Que posso receber a tua vara
Sem que vá doer-me nada nada.

Então, amor, após tanto bombear,
Troca a doce, grossa bomba, de lugar,
E que ela não me seja nada avara.



Complacente
4
Amado meu, desce assim suave
Enquanto enlaço tuas ancas com as pernas.
Penetra-me profundo, sem o entrave
Do hímen que perdi junto às cisternas

Naquele dia em que fomos ao pomar
No poço buscar água para a horta...
Acabamos por na relva nos deitar
E disseste que porias só “na porta”.

“Portinha” tu disseste, na verdade,
Que tudo era pequeno em nossa idade,
Logo era “grutinha” e o teu, “bilau”;

E acabaste enfiando o “catatau”,
Alargando-me o hímen complacente,
Não rompendo-o, ah! tão insistente...



O chiclete

5
Ontem, amor meu, me colocaste
De bruços sobre a mesa da cozinha;
Abaixaste o meu jeans e a calcinha
Que ficaram nos joelhos como um traste.

E abrindo com os dedos, ocioso
Ficaste só assim, admirando
O panorama que disseste delicioso,
Em vez de ires logo penetrando.

E de súbito, então, estando eu tesa,
Juntando a tua saliva que abundava,
Cuspiste no botão, pra minha surpresa,

Mas logo enfiaste a ferramenta
Deslizando com um frescor de menta
Do chiclete que o meu amor mascava.



Orgia
6
Amado, por quê dividirias
Este corpo que é teu até morrer?
Tu sabes que aprecio fantasias
Mas temo o que possa acontecer...

Agora queres dar-me ao teu amigo
Para observares em detalhe,
Olhando-me por baixo até o umbigo
E entrando no momento que te calhe.

E assim, do jeito mesmo que eu previa
Eis que já me empala dupla espada,
Um na frente outro atrás (eu bem sabia!)

E embora me doa a retaguarda
Pelo gozo que a dupla bem retarda,
Como é proveitosa a nossa orgia!



O botão

7
Amo dar-me às raias da loucura,
Tu sabes, meu amor, meu parecer:
Persuadida estou de ser tão pura
Que a moral não pode me deter.

Nada pode destruir minha candura,
Por isso me penetre até o sangue
Aquele que aliar força à ternura
E que afunde em mim como num mangue.

Ah! ouvi-lo chafurdar com estalido,
Sair e penetrar o outro lado
Com o rico caldo já colhido

Saindo para olhar o resultado,
Deve saber apreciar esta visão,
E aurir, desabrochado, o meu botão.



Preâmbulo
8
Amigos, meus leitores, vou contar
O que nunca contei nos meus escritos:
Como puderam esta Alma violar
Sem que depois fossem proscritos,

Cinco jovens, grandes, fortes,
Cinco peões de uma estância
Vizinha, que eu vira em minha infância
E que agora ali estavam, por esportes,

Um rodeio, vacaria, que sei eu?
Desafios, montarias, laços, danças,
O que eu julgava inocente se perdeu,

E o cenário meu, das minhas andanças,
Colhendo sempre-vivas e outras flores
Foi o palco de horror, das minhas dores.



O estupro

9
Eu andava em volúpia, e longa saia
Indiana, eu diria... ah! tão fina!
Sem calcinha por sentir-me feminina
Em deixar que o mênstruo se esvaia

Escorrendo vermelho pelas pernas
(tão brancas, minhas pernas e meu pé,
Tingidos por meu sangue e os espermas
De cinco peões machos, seis até!)

Nem uma hora inteira os satisfaz
Meu corpo nu que desfrutaram devassando
Alternando-se em mim, na frente e atrás,

Até que eu estivesse tão repleta
E meus furos até regurgitando
O grosso caldo que era só a sua meta!



Desfecho

10
Puseram-me de quatro, eu bem me lembro,
Minha alva bunda admirando
Enquanto um enfiava o seu membro
Outros abriam-na olhando

Dois deles meus pulsos seguravam
Ordenhando minhas tetas com as mãos;
O sexto por baixo apreciava
O desempenho do pênis dos irmãos

Que alternavam furor, sofreguidão,
Por uma hora inteira, sem perdão,
Até que me vissem desmaiada.

Depois urinaram sobre mim
Na linda concha aberta, nacarada,
E meu ânus, que ornaram c’um jasmim...



Epílogo

11
Meus leitores, depois desta visão
Creio que fui longe demais
Na fantasia, causando confusão
Talvez, e misturando os canais.

Cultivando minha luxúria extrapolei
Ou atingi de Eros a verdade.
Na dor e humilhação experimentei
O verdadeiro erotismo e santidade.

Sim, porquê sei e aposto até
Que um real prazer ofereci
Ao contar tudo quanto padeci

E jamais saberão (eu tenho fé)
Se aquilo que contei-lhes sem querer,
Foi o fim ou o começo do prazer...

FIM

15/11/2005

terça-feira, 17 de julho de 2007

Sonetos Amorosos da Alma (de Alma Welt)

Prólogo

1
Ouvir e ver, acima e por dentro
Assim quer o coração submetido.
A alma vela a vida bem no centro,
Com seu sussurro vago ao pé do ouvido.

O que ela diz, a Alma, esta mocinha
Em sua candura eterna, Psiquê?
O que pode interessar, se ela caminha
Só pra colher da vida o seu buquê?

Paixão, senhor, é o território dela
Que tem as suas fronteiras alargadas,
Pois espaço é o que querem suas passadas...

E a moça decidida, alça a vela,
Sabe bem o que quer, tem ambição,
Conspirando com o vento, ó coração!

O sommelier

2
Ai, amor, que queres mais?
Estou rendida, exausta, derrotada.
Toma-me pois, me leva, aonde vais?
Leva-me contigo nessa tua escalada!

Tenho o corpo nu, o pêlo nada espesso,
Ofereço-me toda, virando-me do avesso,
Mostrando o orifício, sua mucosa
Que desabrocha aos teus olhos, como rosa.

Colhe minha seiva, na taça assim melosa,
Degusta-a, provando o meu sabor,
Conhece meu buquê, o seu odor...

Depois não classifiques, nem me sirvas
A outro, eu peço, enquanto vivas,
Que só tu sabes minha safra, ó provador!


A aranha

3
Acordo neste leito, entre sonhos
Sob branco lençol, qual minha pele,
Estendo os braços, por ora tão sosinhos
E o derradeiro sonho se repele.

Não quero mais sonhar, não mais dormir.
Quero amor, verdadeiro, nos meus braços;
Vou banhar meus pelos tão escassos,
Meus longos cabelos, e partir

À caça, sim, à caça! Que se cuide
A presa potencial, beleza jovem,
Homem ou mulher, que ambos me comovem.

E então, vou enredá-la com meu charme
Como teia de uma Aracne, que lide
Com delicado fio, com que me arme...


O Arqueiro

4
Circulo por estes quarteirões
Dos “Jardins”, que não temo assim dize-lo
Passarela do fútil e do belo,
Onde se dissipam corações.

E eu que vim do sul sozinha,
Por aqui montando o ateliê,
Sinto falta do pampa e da vinha
E estou morrendo à mingua, já se vê...

Guia-me pois, Amor, com esta seta,
A única que sobrou e que te cedo,
Não tenho mais tiros, só a meta

E o coração não pode fazer feio
De uma vez mais perder nesse torneio,
Pois de que possa errar eu tenho medo...


A serpente

5
Jovem mulher que o meu olhar cativa
No meio da calçada em frente à loja
De sutiãs e de calcinhas, sugestiva,
Abordo como quem nunca se arroja

Tímida também, e com candura
Recolho as chaves que deixou cair,
Tocando-lhe a palma com brandura
Pra que possa já um toque meu sentir.

Meu sotaque sulista é uma teia
Que a envolve, ou então que a desvela;
Jogo as cartas que tenho, nada feia,

Ao contrário, me sei talmente bela
Que sinto legítima a manobra
De mesmérico fascínio, como cobra.



O cerco

6
Convido a nova amiga p’rum café
E trago-a para o estúdio, logo então,
A pretexto de mostrar um quadro até
Ou faze-la provar um chimarrão.

Como é bela!... e sabe o que a espera,
Pois percebo-lhe no seio a excitação,
No ligeiro acelerar do coração
Enquanto a bebida ela tempera .

Evito a falação, de nós, mulheres,
P’ra que o clima sensível não se perca
Enquanto vou servindo: “O que queres?...”

E falo devagar, sem tom simplório,
Cada vez mais perto, lanço a cerca
Em torno desse novo território...



Pas-de-deux

7
Estamos assim nuas neste leito,
Comovidas com o toque e a beleza
De nossos próprios corpos e a leveza
Do timbre com que tudo isso foi feito.

Nada foi forçado nesta dança
Fluente e de tão doce harmonia
De nossos gestos enquanto Amor avança
Que deixamo-lhe sentir nossa alegria

Leitor, voyeur, nessas ousadas
Manobras que aqui você já vê
Como num filme, vídeo ou DVD.

Risos, sussurros, gargalhadas,
Enquanto fazemos “pas-de-deux”
Na horizontal, ante a platéia, que é você...



Coração doido

8
Levanta, ó meu amor, que há tanto velo
E espero ver a luz nos teus cabelos!
Espera aqui no leito meus desvelos
Com o café que trarei tão farto e belo.

Quero servir-te como a uma princesa
E espero que meu leito não te doa,
Que eu não tenha esquecido um grão à toa
Sob o colchão, p’ra provar tua realeza.

Serei a tua escrava, não me tolhas
De ordenar-me serviços, e em restrição
Enfiar-me se quiseres umas rolhas

P’ra que não mais me entregue a ninguém
Senão à minha princesa, e também
P’ra que preserve o doido coração...



Obra-prima

9
Estou feliz demais, assim amando
A primeira que encontrei entre a mais belas;
Outrora, com isso me frustrando
Agora me descubro como elas.

O amor esculpe e pinta como gênio
Dando ao nosso brilho novo olhar;
Cria como artista de um milênio
E não se cansa nunca de criar.

Tenho o olhar brilhante, o lábio cheio,
O seio arfante, farto, a palpitar,
Não tenho nada errado, nada feio,

E a perfeição, em mim, chego a adorar
Pois Amor é isso, assim nos quer:
Em plenitude, em nossa glória de mulher!

Epílogo

10
Em ciranda, rodando numa pista
Nestes sonetos comando a encenação.
Sou diretora, atriz e roteirista
E compus também o tema da canção.

Cantando todos juntos de mãos dadas
Na apoteose, o estribilho e o refrão
Que louva só o amor. E as trapalhadas,
Que cômicas e ternas elas são!...

Neste musical, ó Alma, falas
De um novo prisma, foco e entonação
Que tudo vês, até o que tu calas...

Enquanto a platéia se comove
Cai o pano, lentamente ele se move
Vindo de cima... enquanto cantas, coração!

2002

Novos Sonetos Eróticos da Alma (de Alma Welt)

Prólogo

1
Aproximai-vos todos, eu vos peço,
Para ouvir a desabrida confissão
De amor e alegria com que teço
A minha bela teia de ilusão.

Cedo descobri, disso me orgulho,
Que o destino é formado de frações
Que podem alterar as condições
E construir sem produzir aquele entulho

Que costumamos ver sendo arrastado
Como triste saldo ou legado
Para tantos, num viver desperdiçado.

Se captei da vida a maravilha,
Ao Amor tributo o aprendizado,
P’ra não cair, do orgulho, na armadilha...


Abertura

2
Amores, a quem devo meu destino
Construído pela busca do prazer;
Homens, mulheres, e antes um menino,
Um fio perfeito que começo a perceber...

Nada é gratuito ou sem sentido
Nesta teia que conta a minha história,
Produzindo o painel tão colorido,
Penélope de mim e minha memória.

Quão glorioso é olhar e compreender
O sentido completo do viver,
Ou ter, ao menos, disso a sensação!

Pois se tudo não passa de ilusão,
O melhor que nos cabe então fazer
É amar, tudo aceitar e agradecer!


Cellini
3
Tudo o que amo é recorrente.
Assim, não abandono os meus amores
Embora separados na corrente
Que me arrasta, como mudam os humores.

Quanto a mim, levo a todos, tudo junto,
Por dentro, a mim mesma me somando,
Crescendo, de mim me engravidando,
Ou de todos eles em conjunto.

Nada quero, então, desperdiçar,
Nada perder, de vida e emoções,
Cada segundo no pulsar dos corações...

E como o Benvenuto já dizia,
O tempo somente lamentar
Quando acaso gasto em ninharia...



O Portal
4
Vem pois, amor, que já te aguardo.
Mal te olhei e percebi-te pela voz,
Por um jeito de andar, um quê de enfado,
Dos já conformados em ser sós.

Olhamo-nos tão profundamente
Que sei teus pensamentos, tu os meus;
Conheço tua infância, tua mente
Não quis esconder-se atrás de véus.

Teus olhos, portal feito de ouro,
Tudo revelou em um segundo,
E agora te carrego e ao teu mundo

Como se passasses a tua carga,
Não como alguém que um peso amarga
Mas como quem confia o seu tesouro!


Mímica
5
Recebo-te, homem, em meu amor,
Abrindo-te a porta antes de ver-te,
Quando ainda subia o elevador,
Mal contendo a euforia em receber-te

Sou assim, talvez despudorada,
Infantil, quem sabe, apaixonada,
E orgulhosa de ser tão confiante,
Na beleza de ser, de cada instante.

E quando abres a porta e me sorris,
Eu compreendo, então, porquê te quis
E confio mais ainda no silêncio

Que rege o nosso encontro tão profundo,
Que, com gestos, mantenho e gerencio
A mais doce linguagem deste mundo...



Divino Marquês

6
Rolo a noite toda nos teus braços
Como de uma dança o andamento.
Como é belo o navegar nestes mormaços
Produzidos pelo ardor do nosso alento!

Sinto em minha nuca o teu bafejo
Quando me possuis assim por trás,
Revelando-te, pois, tão contumaz
Aluno do Marquês, que não me pejo...

E enquanto, afoito, tu me rasgas
E sofro, em delícias escabrosas,
Sinto a vida percorrer-me como brasas

E o amor revelar-se em plenitude
Com seus lances rubros como rosas
E o prazer como única virtude!


Fênix
7
Mergulho no sono, assim completa
Literalmente preenchida por teu pênis
Que lentamente escorrega e se liberta,
Parecendo temer aquela Fênix.

E após alguns momentos de torpor
Ou de doce letargia, melhor dito,
Acordo nos teus braços meu ardor,
Entoando um louvor ou um Bendito!

Ai! Devo estar louca, blasfemando...
Perdoai-me, bom Deus, que estou amando
E não sei qual a medida, então, do amor

E tomo, ou recebo, no concreto,
O amor que assim me invade sem pudor,
Deixando o corpo ou o ser assim repleto...


Aos espelhos
8
Nos vejo assim nus nestes espelhos,
Enlaçados (que belos nós estamos!)
Achando linda até a cor dos teus pentelhos,
Percebo já o quanto nos amamos.

Amor, qual alegria, pede humor
E aceita também nossos defeitos.
Adoro até mesmo o despudor
E os detalhes “sutis” por mim eleitos

Como o pêlo ralo e descorado
Que vejo, qual penugem, no meu grelo
Deixando à mostra o tom avermelhado

Obsceno, talvez, e petalado
Como uma rosa, por mantê-lo
Assim rubro, ardente, devassado!...


Louca dança

9
O dia todo nos vejo já possessos,
Ostentando manchas rubras, dentadinhas,
Riscas, arranhões, lábios impressos,
Possuindo-nos em pé, em rapidinhas

E longas também, e estertóricas,
Com gemidos e gritos e desmaios,
Dando gargalhadas tão eufóricas
Estamos, da loucura, nos ensaios...

Nus, em rodopios neste apê
Produzindo até um pôrno-videokê,
Já estamos loucos, sim, e de tesão.

Mas mantenho, no entanto, a certeza
Da lucidez suprema da beleza
Sem limites desta dança de paixão!


Epílogo
10
O meu amado, afinal, foi recolher-se
Pra “dar um tempo” e restabelecer-se,
Deixou-me exausta, voltou e mais me quis
Largando-me prostrada e tão feliz...

Assim é o Amor, a eterna dança
Que faz seu criador só uma criança
Que não se cansa nunca nunca de brincar,
Podendo a Alma alegre machucar.

À grande alegria destas dádivas
De amor e de prazer, das loucas horas
Que mesmo estando em fuga, sempre ávidas,

Enquanto somos assim jovens, ah! brindemos!
Todos juntos, de mãos dadas, sem demoras,
Saudemos nossa vida, então... cantemos!

FIM

Sonetos Eróticos da Alma (de Alma Welt)



SONETOS ERÓTICOS DA ALMA (de Alma Welt)

(para serem lidos em seqüência ininterrupta , pois assim contam uma estória de amor, com começo, meio e fim)

Prólogo
1
Altos sonhos, crepúsculo dourado,
Amor mais que perfeito em pleno ar.
Como um lenço de pérolas orlado,
Sonho de sonhos, do vago imaginar...

Outrora me bastava ser querida
Depois a franca sede me tomou
Quis ser tocada, ainda que ferida,
O bicho homem na selva me acuou.

Entreguei o selo e o sangue, numa mesa
De um lauto jantar, literalmente,
E o ser que me tomou, em forma tesa

Era dentro de mim, em minha mente,
O lado oposto que minha alma sente,
O bicho de quem mesma sou a presa.



A Presa
2
Homem, mulher, em mim e sobre mim
Deitam comigo em forma e sensações
O amplo peito e seus róseos botões
Não importa, que os quero sempre assim

Cheios de dedos, toques, umidades,
Doces projéteis, línguas cobiçosas
Permeando minha carne em suas mucosas
Gosmas, cheiros, sumos, cavidades.

Agora viro-me, as ancas para o ar
Projeto os orifícios que não vejo,
Quero dar-me, oferecer e ensejar:

Entregar-me como pasto, ou carne exposta
Aos olhos ferozes do desejo
Do macho de quem sou presa suposta.



A Lança
3
Vem meu amor, e desce com teu peso
Pressionando assim as minhas tetas
A curva do meu ventre, o púbis teso
Encontrando também as franjas pretas

Que orlam tua lança tão vermelha
Aos olhos que captam num relance
As tuas manobras tensas, nesse lance
De penetrar-me como carne numa grelha.

Quero sentir-me assim, de forma crua,
Bicho, animal, que assim me vejo
Aniquilar-me, a mim, em meu desejo.

Fêmea ancestral, comida, assim varada,
Que pense o mundo, se disso não me pejo
Que louca sou, ou puta, ou desvairada!



Psiqué
4
Caminho, assim nua, pela casa
Às escuras, qual castelo, sem as tochas;
Bato às portas, esbarrando minhas coxas
Procuro o leito onde o meigo monstro jaza.

Pressinto na penumbra o grande leito
Com a sombra vaga que descansa
Sem contornos, que nem mesmo a sua lança
Faz-me ver, e aquele amplo peito...

Não tenho uma lanterna, ou mesmo lume
Sutil, que me permita conferir
As formas que começo a pressentir

E logo sou colhida como a laço
Engolfada, cercada pelo abraço,
Afundando, como em lago de betume.



Hermafrodita
5
Tenho dentro em mim teu grande falo,
Guardando-o assim sofregamente.
Percebo que preenchida, assim, me calo
E deixo-me vagar em minha mente

Por espaços ancestrais onde fui una
Plena e rica, em glória e harmonia
Com a divindade que punia
E que agora o instinto coaduna.

Hermes e Afrodite, ou mesmo Artêmis
Em ti projeto o lado que sobrou
Quando partida fui, perdendo o pênis,

Restando tão somente este pouquinho
Que teima em querer o que faltou
E busca completar-se, tão sozinho...



O Galgo e a Raposa
6
Penetra-me profundo, enquanto gemes
E falas porcaria em meus ouvidos.
Agarra-me, morda-me, o que temes?
Nesta cama só cercada de gemidos

Cessa o bem e a lei dos oprimidos.
Dominando tudo em nosso leito
Aqui somos bandidos assumidos,
A nós mesmos permitindo o malfeito

E se sangue fluir ( pode ocorrer )
A dor foi consentida, eu te garanto,
Teremos lágrimas, decerto, não o pranto

Pois é certo que a dor e o prazer
Correm juntos, como galgo, e feito
O coração, raposa, em nosso peito.



Paraíso
7
Penetra-me, assim, como num porre.
Queria dar-me como essas rameiras,
Se elas dessem de verdade, por inteiras,
Coisa que na certa não ocorre...

Então quero ser mártir, sem juízo,
Louca e santa, na carne torturada,
Em êxtase, buscando o paraíso
Na mesma carne, assim martirizada.

Para que minha alma então não saia
Preencha-me assim, assim, o orifício
E essa ânsia de amar nunca se esvaia.

Quero explodir de fúria de prazer
E se então meu sangue rubro escorrer,
Celebrarás, como padre em santo ofício!


La Strega
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Estou ficando louca de desejo
De amar e em seus braços perder-me.
Preciso, já percebo, é conter-me:
Não sobrará mais nada, agora vejo,

Se me entrego, deste modo, por inteiro
Que o coração, sendo carne, nunca mente...
Devo poupar-me, ou dar-me loucamente
Como louca que não só rasga dinheiro?

Será, pois, uma questão de grau de entrega?
Já não sei mais, não tenho a lucidez,
Perdida de paixão, como uma strega

Quero voar montada no seu falo,
Embora isso pareça insensatez,
É assim que em meu delírio devo amá-lo.



Mel
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Vem, meu amor, assim, já bem ereto
Sem cerimônia, seguro, suficiente
Abraça-me, tocando-me direto
Sentindo aquele anel já saliente

Depois passa teus dedos no meu púbis
E vai descendo, seguindo a sua curva
Para encontrar as cores dos rubis
Que se mostram quando a vista não se turva

Abra os lábios, assim, em arregaço
Se quiseres beijá-los docemente
Sentirás o seu perfume, levemente

E colhendo com a língua o mel que faço,
Estarás pronto, então, para o arremesso,
Que ao teu louco dardo me ofereço.


Baile de Máscaras
10
Ponhamos nossas máscaras depressa
(à meia noite não devo conhecê-lo),
Não me conheces, o baile já começa
E meu rosto mascarado é como um selo.

O coração palpita, ingenuamente,
Mas cheio de malícia em se ocultar,
Espera o desvelar, pois ele mente
Fingindo-se ocupado no bailar.

E chegas, então, que só te espero
No meio desses pares indiscretos
Que fazem o seu jogo em lero-lero.

Como é belo o ritual, cheio de anseios,
Entre amantes que camuflam seus aspectos
Para o pronto desnudar-se sem receios!


O Lago
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Ponho-me nua, eterna novidade
Pr’ os teus olhos, que assim me queres ver
Não consigo ocultar minha ansiedade
E tu não consegues te conter.

Tremes tanto ao tocar-me, também tremo
Como se inverno fosse, sobre um lago
Se tocas o meu ventre como um remo
Singras minhas águas como afago,

Superfície a ondular em círculos,
Buscando minhas margens tão distantes
Que põem a superfície como antes

De cada novo toque cuidadoso
Entre um e outro gemido do meu gozo,
Viagem que reata os nossos vínculos!


A Barca
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O meu amor deixou-me, ó triste noite,
Meu corpo torturado pela ausência
Crispa-se em ondas como sob açoite
Ao tocar-me, sentindo minha carência.

Contorço-me, assim nua no meu leito
Introduzo objetos e meus dedos,
Abro-me toda, rasgo dentro o peito,
Qual Pandora abro a caixa dos meus medos...

Estou louca, estou só, estou faminta
Enxergo minha beleza em desespero
Embora o meu espelho já não minta,

E me revolta ainda ser tão bela,
À deriva, linda barca, tanto esmero
A que faltam, no entanto, remo e vela.




Alegria
13
Voltou o meu amor, voltou, pasmem vocês!
E com a alegria, montes de CDs,
Nua pela casa, o sexo molhado,
Ele de roupão, e o circo bem armado.

Dias de euforia, noites de paixão!
Como dizer, ou contar, ó meus leitores?
Orgasmos ruidosos, vivos estertores,
Penetrações vibrantes, riso, lassidão...

As ancas vivas, lábio entumecido
Os dois bicos dos meus seios retesados,
Meu ânus latejando intrometido...

Quero gritar, o amor tinha partido,
Voltou e me deseja, oh! renovados,
Eros, Psiqué... enfim reconciliados!!

FIM
03/08/2003