segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

De guris e aero-modelos (de Alma Welt)

Amor meu, irmãozinho adorado,
Deixa-me ficar aqui no sótão,
Quietinha assim, bem do teu lado
Enquanto constróis teu avião.

Quando cresceres serás um bom piloto
Ou então um mágico de cartas,
Pois com habilidades de canhoto
Nunca de teus truques tu me fartas.

Mas deixa que eu pegue teu pintinho
Enquanto trabalhas com desvelo
Pois que quero ver se está molinho...

Bah! Já não está mais, não pares não!
Que lindo, enquanto colas o modêlo
Teu passarinho cresce em minha mão!

O intruso (de Alma Welt)

Esta noite acordei toda suada
(e nem sequer estamos no verão)
Com a impressão de devassada,
Toda aberta ali no meu colchão.

Colocando a mão na minha pombinha
Por instinto feminino, ai de mim!
Percebi que ela estava molhadinha,
Que digo? Ensopada, isso sim!

E ao levar os dedos às narinas
Senti um odor assaz estranho
Certamente nada próprio das meninas.

Dei-me conta de que fora visitada
Por algo que injetou-me certo ranho
E no lençol uma nódoa encarnada...


25/06/2006

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Nota da editora

Alma se refere neste soneto a um episódio real acontecido na sua adolescência. Minha irmã tinha o hábito de dormir nua apesar de todas as recomendações da Matilde. Por sua enorme beleza tentadora teria sido estuprada enquanto dormia? Rôdo, o principal suspeito, nega até hoje. Alma que tinha hímem complacente, nesta noite o teve completamente rompido, daí o sangue no lençol. Ficamos extremamente preocupados com uma possível gravidez, que milagrosamente não aconteceu. (Lucia Welt)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Dias há... (de Alma Welt)

Dias há em que não caibo em minha pele
E preciso correr como uma louca
Arrancando-me as roupas e a touca
E não podendo suportar que alguém me rele.

Rolo pelo chão, alguém me ajude!
Mas não me toquem, não me posso controlar,
Mas eu peço: não peçam que eu mude,
É necessário apenas me amarrar.

Depois não parem, eu ali, de me olhar
E deixem-me assim por uma hora,
Somente isso irá me apaziguar.

E no final, se me virem ensopada
Escorrendo pelas pernas como agora,
Por mais um mês ficarei bem comportada.

16/10/2006

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Nota da editora

Hesitei bastante em publicar este soneto revelador, mas tendo consultado a respeito a doutora Jensen, essa foi do parecer de que, como a Alma era uma escritora confessional, que não escondia nada e fazia em seu pensamento e cotidiano, de tudo e até de suas mazelas a matéria de sua arte, e que isso era parte inerente de sua personalidade artística, seria uma traição escamotear este soneto, embora ele exponha a doença da minha irmã. Alma tinha PMD* (hoje se diz "transtorno-bipolar") e no seu polo eufórico tinha características de ninfomania ou histeria erótica. Mas tanto eu como Rodo e a doutora estamos convencidos de que nada disso diminui a sua grandeza literária, constituindo, ao contrário, o seu "pathos anímico" ou o que já se denomina o "caso Alma Welt". (Lucia Welt)

* PMD - Psicose maníaco-depressiva.