quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Nas estradas do meu Pampa (de Alma Welt)

(121)

Muito por meu Pampa já vaguei
Embora isto pareça pura prosa.
Foi quando da Clínica me esgueirei
Fugindo pr'uma estrada perigosa

Em que pouca gente boa se aventura
Mas em que pretendi tomar carona
Vestida como estava c'uma lona
De brim, como um saco, sem cintura.

O chinelo ao atirar na rodovia,
Acabei recolhida por primeiro
Por um que era um mau caminhoneiro

E que agarrou e abusou desta guria
Mas em quem dei "joelhaço" bem certeiro,
Quando a viola em cacos já se via...

29/12/2005
Nota da editora:

Neste estranho soneto, que seria doloroso e patético se não contivesse uma nota humorística típica dela, minha irmã espantosamente revela, se bem o entendo, que foi estuprada por um caminhoneiro, numa estrada em pleno pampa, ao tentar pegar uma primeira carona depois de fugir da clínica em que estava internada. Muito femininamente ela se refere a detalhes como o camisolão informe das internas, e as infames chinelas que eram obrigadas a usar e que ela atirou na pista ficando descalça. A beleza da Alma era perigosa para ela, e a fazia visada. Ela se referiu a este episódio de sua fuga numa das cartas a Andrea, com quem se correspondia na época, por e. mail. Na carta ela conta que deu um "murro na cara" do violador, o que acho menos provável que este "joelhaço", e que pulou da boléia e correu pela pista, até que o motorista, saltando também, deu um tiro para cima para assustá-la. Na carta a pobre Alma ainda conta que, de medo e susto fez xixi de pé, pelas pernas abaixo, e continuou andando e chorando pela estrada, ouvindo a gargalhada daquele vilão, que religou o caminhão e passou por ela, seguindo em frente. Essas peripécias da Alma e seus sofrimentos nos confrangiam, doíam muito, sem que pudéssemos protegê-la de si mesma e do mundo. (Lucia Welt)

Nenhum comentário: