quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pinóquio (de Alma Welt)

Quando guria recebi aqui na estância
A visita deslumbrante de uma prima
Que vi como encarnação da infância
Sulina, clara e ingênua obra-prima.

E não pude resistir a convidá-la
Ao galpão, meu “templo dos amores”
Onde eu poderia “fazer sala”
Mostrando meus brinquedos e pendores.

Mas lembro que surgiu a dona Ana
E nos interrompeu doce colóquio
Com a varinha de marmelo açoriana

Quando já nos reclinávamos na palha,
Eu a contar a saga do Pinóquio,
Sem o mágico nariz, que é minha falha...

(sem data)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Banho de inverno na cascata (de Alma Welt)

Os dias estão frios, não escuros,
E não quero esse inverno a afligir-me,
Mas inquieta me porei em ais e apuros
Com meu mano à cascata ao dirigir-me

Pois sou logo atraída pelas águas
E mesmo me desnudo a tiritar
E faço o meu banho de espantar
Com Rodo a aspirar minhas anáguas.

Então é a vez, eu já vestida,
Do pênis deste atleta de praínha
Fazer nessas águas a investida

Pois já me acolhera no seu pala
Aquecida no seu peito, assim nuínha,
E dissera-me, apontando: “mira, estala!”

(sem data)

sábado, 6 de junho de 2009

O Duplo da Alma (de Alma Welt)

Uma noite desci do leito meu
Por sentir a presença de alguém
Numa alta madrugada de Romeu
Quando a cotovia era por bem

E não o rouxinol do anoitecer...
Julieta ou Psiqué sem lampião,
Subi à mansarda do irmão
E empurrei a porta sem bater

E bah! O que vi mal suportei
E o forte coração se dissolveu:
Ali estava a outra que era eu,

Nua nos braços do belo jogador,
Alvas pernas no ar, fazendo amor
Do jeito que eu mesma me ensinei...

(sem data)