sábado, 4 de agosto de 2007

A centauresa (de Alma Welt)


Quantas vezes saí pela cancela
A cavalgar a minha égua preferida
Que me amava por eu montar sem sela
E por sentir-me nua em seguida

Ao desvencilhar-me do vestido
Assim que atingia a pradaria
Para num percurso sem sentido
Estar ao léu, ao vento e à alegria.

Então, ao derrapar-me no local
Sob meu umbral deliqüescente,
Estacava, era hora de descer

Ou melhor, deitar e enlanguecer
Estendida no lombo paciente,
A estranha centauresa horizontal...

08/12/2006

Nota da editora:

A ilustração deste soneto, de autoria de Guilherme de Faria, foi feita originalmente para o poema "A Amazona" do ciclo de poemas "O Circo", escrito por Alma em 2002( vide O Circo, de Alma Welt, no Leia Livro). Ao rever agora o livreto lindamente ilustrado pelo mestre, com desenhos feitos a pincel e tinta nanquin, espantei-me com a coincidência de postura da Alma nas costas do cavalo, antevista pelo pintor, pois o poema do Circo não discreve esse curioso lance, que Alma realmente praticava: deitar-se de costas, sensualmente, no dorso de seu cavalo. Guilherme antecipou em desenho o que a Alma viria a narrar em soneto anos depois. Realmente, os artistas são videntes...

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