sábado, 23 de outubro de 2010

Fantasia no espelho (de Alma Welt)

Tu sabes que me entrego toda inteira
Quando tanges as cordas de minh’alma
Ao falar-me assim com tanta calma
Que esta noite me farás a tua rameira,

E me porás em obscenas posições
Rasgada e amarrada, soluçando,
Implorando a sério mil perdões
E de medo perna abaixo me mijando

Mas tudo isso e o estupro acalentado
Será fruído se for para valer
E me tiveres com esforço derrotado,

Pois lutarei como leoa encurralada
No espelho em que gozas teu poder
Ao fazer-me me ver nua e devassada...

(sem data)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Abantesma (Alma Welt)

À noite esperei o meu amado
Uma vez mais ouvindo cada passo
E cada vão murmúrio ali ao lado
Na minha louca vigília de fracasso.

Uma vez mais não veio o meu amado!
E às vezes penso vir só de mim mesma
Meu próprio triste espectro esperado
Como a mais patética abantesma...

E então me encho de carícias
Aquelas que mereço de verdade
Descartadas que vão as pudicícias...

E introduzo-me os dedos e objetos
Evocando o divino velho Sade
Dileto amigo dos amores abjetos...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Confissão de peona (de Alma Welt)

“Não mais caminharei pela coxilha
Em torno, Alma, ao vosso casarão.
Não era eu a infanta, a rica filha
E guardava a minha honra pr’um peão.

Muito tempo calei, por escabroso
E chocante demais para mim mesma,
E agora um impulso corajoso
Me disse pra contar à minha princesa.

No bosque, a passarada em polvorosa,
Na luta dominada, ali, no chão,
Conspurcada tive a fonte rosa.

Depois de deixar-me suja e nua
Entrou em mim por trás c'um palavrão
De fazer corar mulher da rua...”

(sem data)