quinta-feira, 26 de julho de 2007

Sonetos Luxuriosos da Alma (de Alma Welt)

Prólogo
1
Hoje acordei desesperada
Rolando no meu leito como outrora
Quando a presença era esperada
Do cavaleiro que viria a qualquer hora.

E pus-me a gritar na vã ardência
Com meus dedos plantados como um marco
No meu triste corpo em sua carência
De perfeita seta sem... o arco.

E então levanto sem que sequer me vista
E vou para o ateliê ainda nua
Sabendo que é possível assim ser vista

Por aquele passante da minha rua
De quem sempre sonhei, semi-acordada
Uma audaz visita inesperada.


2
Invada-me, amor, levante a trégua,
Com força, assim, como a uma fêmea,
Como um guri matuto a sua égua
Barranqueira, e nada de “alma gêmea”.

Coloque-me de quatro se quiser
Apoiada nas costas da cadeira,
Introduza sua vara assim certeira
Onde melhor lhe aprouver.

Mas quero que olhe enquanto faz
Pois meu prazer aumenta percebendo
Que sou olhada, aberta, assim por trás.

E se gozar bem fundo dentro em mim,
Só saia para ver-me oferecendo
Um buquê de flores brancas de jasmim.


3
Ponha-me, meu monge, à tua mesa,
Quero dizer, deitada mesmo sobre ela.
Levanta a tua batina assim tesa
Enquanto ergo bem alta a minha canela.

E que olhes assim, antes do tiro,
Pois o quero certeiro no furinho
Que tu sabes bem o qual prefiro,
Já que qualquer dos dois será teu ninho.

Andarilho, no entra e sai da tua andança
Não deixes de me olhar assim por trás
Para observares a lambança

Que produzes nesse corpo hospitaleiro
Que sempre acolheu teu leva-e-traz,
Portas abertas, como ao monge seu mosteiro.


4
Esta manhã, gentil, nem me acordaste
Com a tua doce interferência
No meu lindo sonho, e penetraste
Minha fenda por trás, mas com prudência.

E ficaste assim, adormecendo,
Gostoso, quentinho dentro em mim
Até que já molinho e escorrendo
Saíste, pois teu sonho teve fim.

Depois ouvi o som do teu xixi
E do banho após o barbear
Enquanto eu vazava por ali

Molhando o meu lençol com tal carinho
Que chamei-te antes mesmo de acordar
Para que voltasses ao teu ninho.


5
O meu amor adora os meus pentelhos
Tanto quanto eu, que ao acordar
Os contemplo longamente nos espelhos
Constatando a perfeição de emoldurar

Que eles, meus pelinhos, conseguiram,
Em torno de lábios tão rosados
Que nunca uma mentira proferiram,
E o seu amor declaram, mas calados.

E então eu me viro oferecendo
O revés que ele adora mais ainda,
Já que minha bunda é mesmo linda,

Enquanto entreabrindo ele vai vendo
Um botão rosado, apetitoso
Um mistério de gozo... doloroso.


6
Amor, hoje podemos variar,
Pois convidei a minha amiga pr’um pernoite,
E se fores amável, vais voltar
E nos pegar, para brindar-nos c’um açoite.

O rabo-de-tatu está na estante
Está tudo combinado, eis a senha:
Quando chegares espera um instante
Para ouvires-me exclamar “Ai! Amor, venha!”

E então entrarás meio vermelho,
E fingindo-te traído gritarás:
“Ah! Safada! Então esse é o espelho

Que dizias ser a tua companhia,
Enquanto eu só contigo dividia?
Agora, os três dividiremos este relho!”

7
Ontem, meu amor, foi uma glória:
A farsa funcionou à maravilha,
Minha amiga acreditou em toda a estória
E deixou-se castigar como uma filha.

Depois nos colocaste assim de quatro
E passaste em revista a retaguarda
Chegando a tirar-nos o retrato
(estou louca pela foto revelada!)

E então nos impuseste o castigo
Final e mais completo, o de Sodoma,
Dizendo que assim o amor se soma

À dor do flagelo merecido.
Depois de fustigadas pelo amigo,
Um botão de rosa... “intro-metido!”


8.
Ai, amor, quero voltar à minha estância,
Eis o dilema de ser insaciável,
Já nada pode aplacar a minha ânsia,
Quanto mais amor, mais desejável

É para mim o homem em seu vigor.
E sonho em ser total, completamente
Possuída por trás e pela frente
Com delicadeza ou com rigor.

Sonho, qual princesa ser mimada
Com flores e passeios e carinhos,
E logo em seguida castigada,

Colocada com a perna muito alta
Na cama, para então ser violada
Por todos os amigos, toda a malta!


9

Amor é um turbilhão, um mar de chamas
Que queima como incêndio na floresta,
É ferida aberta sobre as camas
E dói tanto que pouco ou nada resta

Só a ânsia de mais e mais amar
E mesmo virada assim do avesso
É redondamente se enganar
Quanto ao seu fim ou seu começo;

É ficar cega de tanto admirar
E querer o outro devorar
Para senti-lo dentro devorando.

Eis o nosso coração então repleto,
Que vai o Hermafrodita aflorando,
O ser primordial, uno, completo!


Epílogo
10
Levantei-me esta manhã e eis-me curada!
Posso passear sem ser notada
Senão como aquela bela Alma
Que parece ser feliz e muito calma.

O mundo saberá meu desvario
Apenas nestas “mal traçadas linhas”
Num futuro risonho e menos frio
Onde as mulheres não serão tão comezinhas

E então apaziguando meus furores
Vou procurar conter-me (não gargalhem)
Para deixar “as partes” descansarem


Embora minha prudência seja pouca.
Aguardem-me, pois, meus bons leitores
Que em breve voltarei ainda mais louca.

2005

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