(13)
(dos Sonetos da Pintora (IV)
(3)
Como posso prosseguir acreditando,
Manter aceso o olhar e o desejo,
Se o coração carente traz o ensejo
De perder-se no outro, assim, amando?
Refiro-me à pulsão que cria, à Arte,
Da qual não posso certamente prescindir.
Mulher-artista, como prosseguir
Se o doido coração quer liquidar-te?
Ser só mulher, entregue, possuída,
Fêmea total, às raias da odalisca,
Da puta gloriosa e assumida...
Assim quer o branco corpo, o alvo seio,
Os lábios cheios de paixão arisca,
As amplas curvas com a fenda ao meio!
(4)
O quadro que pintei hoje, me guia,
Amanhã serei outra, em plenitude.
A obra que não fiz neste meu dia
Nunca verá sua completude,
Assim dizia um velho amigo meio sábio
Enquanto eu me achava "meio grávida"
Quero dizer com isso o quanto hábil
Era o meu amigo e... eu, tão ávida!
A sede de viver me confundia
E na louca juventude dispersiva,
Por delicadeza me perdia...*
E assim, entre ânsias e desejos
Quanta hora perdida e quão lasciva
Era esta bela Alma, e... quantos beijos!
*(Paráfrase do célebre verso de Rimbaud:
"Par délicatesse j'ai perdu ma vie")
5
Vem, minha amiga, vem comigo
Para o quarto, já que queres premiar-me.
Pintei o teu retrato, e não consigo
Deixar de, a ti, agora querer dar-me.
Terás de possuir-me de algum modo.
Quero que entre em mim o que tiveres:
Lábios, língua, dedo, enquanto rodo
Como frango no espeto. Não me queres?
Adoro sentir-me aniquilada
Depois de ser assim tão obediente...
Não sou mais a pintora, não sou nada!
Conquanto eu não te veja preparada,
Quero, enquanto ainda esteja quente,
Com este relho de meu pai ser fustigada.
11/11/2005
segunda-feira, 23 de julho de 2007
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