terça-feira, 17 de julho de 2007

Novos Sonetos Eróticos da Alma (de Alma Welt)

Prólogo

1
Aproximai-vos todos, eu vos peço,
Para ouvir a desabrida confissão
De amor e alegria com que teço
A minha bela teia de ilusão.

Cedo descobri, disso me orgulho,
Que o destino é formado de frações
Que podem alterar as condições
E construir sem produzir aquele entulho

Que costumamos ver sendo arrastado
Como triste saldo ou legado
Para tantos, num viver desperdiçado.

Se captei da vida a maravilha,
Ao Amor tributo o aprendizado,
P’ra não cair, do orgulho, na armadilha...


Abertura

2
Amores, a quem devo meu destino
Construído pela busca do prazer;
Homens, mulheres, e antes um menino,
Um fio perfeito que começo a perceber...

Nada é gratuito ou sem sentido
Nesta teia que conta a minha história,
Produzindo o painel tão colorido,
Penélope de mim e minha memória.

Quão glorioso é olhar e compreender
O sentido completo do viver,
Ou ter, ao menos, disso a sensação!

Pois se tudo não passa de ilusão,
O melhor que nos cabe então fazer
É amar, tudo aceitar e agradecer!


Cellini
3
Tudo o que amo é recorrente.
Assim, não abandono os meus amores
Embora separados na corrente
Que me arrasta, como mudam os humores.

Quanto a mim, levo a todos, tudo junto,
Por dentro, a mim mesma me somando,
Crescendo, de mim me engravidando,
Ou de todos eles em conjunto.

Nada quero, então, desperdiçar,
Nada perder, de vida e emoções,
Cada segundo no pulsar dos corações...

E como o Benvenuto já dizia,
O tempo somente lamentar
Quando acaso gasto em ninharia...



O Portal
4
Vem pois, amor, que já te aguardo.
Mal te olhei e percebi-te pela voz,
Por um jeito de andar, um quê de enfado,
Dos já conformados em ser sós.

Olhamo-nos tão profundamente
Que sei teus pensamentos, tu os meus;
Conheço tua infância, tua mente
Não quis esconder-se atrás de véus.

Teus olhos, portal feito de ouro,
Tudo revelou em um segundo,
E agora te carrego e ao teu mundo

Como se passasses a tua carga,
Não como alguém que um peso amarga
Mas como quem confia o seu tesouro!


Mímica
5
Recebo-te, homem, em meu amor,
Abrindo-te a porta antes de ver-te,
Quando ainda subia o elevador,
Mal contendo a euforia em receber-te

Sou assim, talvez despudorada,
Infantil, quem sabe, apaixonada,
E orgulhosa de ser tão confiante,
Na beleza de ser, de cada instante.

E quando abres a porta e me sorris,
Eu compreendo, então, porquê te quis
E confio mais ainda no silêncio

Que rege o nosso encontro tão profundo,
Que, com gestos, mantenho e gerencio
A mais doce linguagem deste mundo...



Divino Marquês

6
Rolo a noite toda nos teus braços
Como de uma dança o andamento.
Como é belo o navegar nestes mormaços
Produzidos pelo ardor do nosso alento!

Sinto em minha nuca o teu bafejo
Quando me possuis assim por trás,
Revelando-te, pois, tão contumaz
Aluno do Marquês, que não me pejo...

E enquanto, afoito, tu me rasgas
E sofro, em delícias escabrosas,
Sinto a vida percorrer-me como brasas

E o amor revelar-se em plenitude
Com seus lances rubros como rosas
E o prazer como única virtude!


Fênix
7
Mergulho no sono, assim completa
Literalmente preenchida por teu pênis
Que lentamente escorrega e se liberta,
Parecendo temer aquela Fênix.

E após alguns momentos de torpor
Ou de doce letargia, melhor dito,
Acordo nos teus braços meu ardor,
Entoando um louvor ou um Bendito!

Ai! Devo estar louca, blasfemando...
Perdoai-me, bom Deus, que estou amando
E não sei qual a medida, então, do amor

E tomo, ou recebo, no concreto,
O amor que assim me invade sem pudor,
Deixando o corpo ou o ser assim repleto...


Aos espelhos
8
Nos vejo assim nus nestes espelhos,
Enlaçados (que belos nós estamos!)
Achando linda até a cor dos teus pentelhos,
Percebo já o quanto nos amamos.

Amor, qual alegria, pede humor
E aceita também nossos defeitos.
Adoro até mesmo o despudor
E os detalhes “sutis” por mim eleitos

Como o pêlo ralo e descorado
Que vejo, qual penugem, no meu grelo
Deixando à mostra o tom avermelhado

Obsceno, talvez, e petalado
Como uma rosa, por mantê-lo
Assim rubro, ardente, devassado!...


Louca dança

9
O dia todo nos vejo já possessos,
Ostentando manchas rubras, dentadinhas,
Riscas, arranhões, lábios impressos,
Possuindo-nos em pé, em rapidinhas

E longas também, e estertóricas,
Com gemidos e gritos e desmaios,
Dando gargalhadas tão eufóricas
Estamos, da loucura, nos ensaios...

Nus, em rodopios neste apê
Produzindo até um pôrno-videokê,
Já estamos loucos, sim, e de tesão.

Mas mantenho, no entanto, a certeza
Da lucidez suprema da beleza
Sem limites desta dança de paixão!


Epílogo
10
O meu amado, afinal, foi recolher-se
Pra “dar um tempo” e restabelecer-se,
Deixou-me exausta, voltou e mais me quis
Largando-me prostrada e tão feliz...

Assim é o Amor, a eterna dança
Que faz seu criador só uma criança
Que não se cansa nunca nunca de brincar,
Podendo a Alma alegre machucar.

À grande alegria destas dádivas
De amor e de prazer, das loucas horas
Que mesmo estando em fuga, sempre ávidas,

Enquanto somos assim jovens, ah! brindemos!
Todos juntos, de mãos dadas, sem demoras,
Saudemos nossa vida, então... cantemos!

FIM

Nenhum comentário: