Prólogo
1
Aproximai-vos todos, eu vos peço,
Para ouvir a desabrida confissão
De amor e alegria com que teço
A minha bela teia de ilusão.
Cedo descobri, disso me orgulho,
Que o destino é formado de frações
Que podem alterar as condições
E construir sem produzir aquele entulho
Que costumamos ver sendo arrastado
Como triste saldo ou legado
Para tantos, num viver desperdiçado.
Se captei da vida a maravilha,
Ao Amor tributo o aprendizado,
P’ra não cair, do orgulho, na armadilha...
Abertura
2
Amores, a quem devo meu destino
Construído pela busca do prazer;
Homens, mulheres, e antes um menino,
Um fio perfeito que começo a perceber...
Nada é gratuito ou sem sentido
Nesta teia que conta a minha história,
Produzindo o painel tão colorido,
Penélope de mim e minha memória.
Quão glorioso é olhar e compreender
O sentido completo do viver,
Ou ter, ao menos, disso a sensação!
Pois se tudo não passa de ilusão,
O melhor que nos cabe então fazer
É amar, tudo aceitar e agradecer!
Cellini
3
Tudo o que amo é recorrente.
Assim, não abandono os meus amores
Embora separados na corrente
Que me arrasta, como mudam os humores.
Quanto a mim, levo a todos, tudo junto,
Por dentro, a mim mesma me somando,
Crescendo, de mim me engravidando,
Ou de todos eles em conjunto.
Nada quero, então, desperdiçar,
Nada perder, de vida e emoções,
Cada segundo no pulsar dos corações...
E como o Benvenuto já dizia,
O tempo somente lamentar
Quando acaso gasto em ninharia...
O Portal
4
Vem pois, amor, que já te aguardo.
Mal te olhei e percebi-te pela voz,
Por um jeito de andar, um quê de enfado,
Dos já conformados em ser sós.
Olhamo-nos tão profundamente
Que sei teus pensamentos, tu os meus;
Conheço tua infância, tua mente
Não quis esconder-se atrás de véus.
Teus olhos, portal feito de ouro,
Tudo revelou em um segundo,
E agora te carrego e ao teu mundo
Como se passasses a tua carga,
Não como alguém que um peso amarga
Mas como quem confia o seu tesouro!
Mímica
5
Recebo-te, homem, em meu amor,
Abrindo-te a porta antes de ver-te,
Quando ainda subia o elevador,
Mal contendo a euforia em receber-te
Sou assim, talvez despudorada,
Infantil, quem sabe, apaixonada,
E orgulhosa de ser tão confiante,
Na beleza de ser, de cada instante.
E quando abres a porta e me sorris,
Eu compreendo, então, porquê te quis
E confio mais ainda no silêncio
Que rege o nosso encontro tão profundo,
Que, com gestos, mantenho e gerencio
A mais doce linguagem deste mundo...
Divino Marquês
6
Rolo a noite toda nos teus braços
Como de uma dança o andamento.
Como é belo o navegar nestes mormaços
Produzidos pelo ardor do nosso alento!
Sinto em minha nuca o teu bafejo
Quando me possuis assim por trás,
Revelando-te, pois, tão contumaz
Aluno do Marquês, que não me pejo...
E enquanto, afoito, tu me rasgas
E sofro, em delícias escabrosas,
Sinto a vida percorrer-me como brasas
E o amor revelar-se em plenitude
Com seus lances rubros como rosas
E o prazer como única virtude!
Fênix
7
Mergulho no sono, assim completa
Literalmente preenchida por teu pênis
Que lentamente escorrega e se liberta,
Parecendo temer aquela Fênix.
E após alguns momentos de torpor
Ou de doce letargia, melhor dito,
Acordo nos teus braços meu ardor,
Entoando um louvor ou um Bendito!
Ai! Devo estar louca, blasfemando...
Perdoai-me, bom Deus, que estou amando
E não sei qual a medida, então, do amor
E tomo, ou recebo, no concreto,
O amor que assim me invade sem pudor,
Deixando o corpo ou o ser assim repleto...
Aos espelhos
8
Nos vejo assim nus nestes espelhos,
Enlaçados (que belos nós estamos!)
Achando linda até a cor dos teus pentelhos,
Percebo já o quanto nos amamos.
Amor, qual alegria, pede humor
E aceita também nossos defeitos.
Adoro até mesmo o despudor
E os detalhes “sutis” por mim eleitos
Como o pêlo ralo e descorado
Que vejo, qual penugem, no meu grelo
Deixando à mostra o tom avermelhado
Obsceno, talvez, e petalado
Como uma rosa, por mantê-lo
Assim rubro, ardente, devassado!...
Louca dança
9
O dia todo nos vejo já possessos,
Ostentando manchas rubras, dentadinhas,
Riscas, arranhões, lábios impressos,
Possuindo-nos em pé, em rapidinhas
E longas também, e estertóricas,
Com gemidos e gritos e desmaios,
Dando gargalhadas tão eufóricas
Estamos, da loucura, nos ensaios...
Nus, em rodopios neste apê
Produzindo até um pôrno-videokê,
Já estamos loucos, sim, e de tesão.
Mas mantenho, no entanto, a certeza
Da lucidez suprema da beleza
Sem limites desta dança de paixão!
Epílogo
10
O meu amado, afinal, foi recolher-se
Pra “dar um tempo” e restabelecer-se,
Deixou-me exausta, voltou e mais me quis
Largando-me prostrada e tão feliz...
Assim é o Amor, a eterna dança
Que faz seu criador só uma criança
Que não se cansa nunca nunca de brincar,
Podendo a Alma alegre machucar.
À grande alegria destas dádivas
De amor e de prazer, das loucas horas
Que mesmo estando em fuga, sempre ávidas,
Enquanto somos assim jovens, ah! brindemos!
Todos juntos, de mãos dadas, sem demoras,
Saudemos nossa vida, então... cantemos!
FIM
terça-feira, 17 de julho de 2007
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