quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Profissão de Fé (de Alma Welt, e desenho de Guilherme de Faria)


(113)

Nestes tempos de profunda decadência,
De "cultura de massa", assim chamada,
Que não passa de anal incontinência
E de vil vulgaridade divulgada,

Eu continuo a resistir heroicamente
Buscando beleza e qualidade
Na arte e no erotismo propriamente,
Que nada tem a haver com sujidade...

E construo minha própria Renascença
Rejeitando só o tom de um Aretino*
Por achá-lo mau pornô e mui cretino.

Assim, quando repasso o itinerário
Percorrido, confirmo a minha crença
No valor do meu texto temerário.

19/12/2006

Notas da editora:

Sonetos como esse confirmam a lucidez da Alma a respeito de seus textos eróticos, que ela restaurou à categoria de grande Arte, por achar o gênero até então aviltado pela malícia masculina, fruto, segundo ela, da consciência infeliz herdada do cristianismo. Os poetas consagrados que se dedicaram ao gênero, como José Maria du Bocage (século XIX) e Pietro Aretino (século XVI), escreveram sonetos eróticos que na verdade eram meramente pornográficos, embora tecnicamente engenhosos. Apezar de grandes poetas, o que eles escreveram neste gênero, equivale ao mais baixo pornô do século XX, com aquela mesma visão machista, rebarbativa, e pejorativa do sexo, que se pode ver nos videos pornôs das locadoras do nosso tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Os sonetos eróticos de Alma são verdadeiras obras de arte. Não existe na literatura brasileira atual nada que se compare com esta obra, que além de corajosa e bela, transcende o meramente erótico para situar-se no mais alto grau das nossas letras.